Renata Pinto: um sonho de vencer
- Joana Almeida Carvalho
- 8 de jan. de 2020
- 4 min de leitura
Renata Pinto é uma jovem de apenas 19 anos que pratica natação adaptada. Já participou em vários campeonatos Europeus e tem o grande sonho de ir aos Jogos Paralímpicos.

Enfoque- Como nasceu a tua paixão pela natação?
Renata Pinto- Confesso que esta pergunta, para mim, é um pouco difícil de responder, porque desde sempre me lembro de nadar e estar dentro de água. Entrei na natação aos 2 anos de idade por recomendação médica e penso que foi desde aí que começou a paixão. Segundo os meus pais, eu sempre gostei muito de água e era um peixinho autêntico. Mas penso que a paixão aumentou quando iniciei a competição a sério. Foi aí que veio a determinação e o foco para conseguir alcançar algo. Mas claro que gostava muito quando fazia simplesmente por lazer.
E- Há quantos anos praticas esta modalidade?
RP- A natação surgiu na minha vida aos 2 anos de idade mas só aos 6/7 anos iniciei a competição, portanto prático natação em competição há 13 anos.
E- Alguma vez sentiste que nunca poderias tornar-te numa boa nadadora por causa da tua condição?
RP- Sim, já. Quando iniciei a natação em competição, nadava com meninos que não tinham qualquer tipo de deficiência. Nos primeiros anos era fácil acompanhar-lhes nos treinos, mas há medida que as competições e os treinos iam ficando difíceis, era mais difícil para mim acompanhar o ritmo de alguns colegas. Em consequência disto vem a desmotivação e a tristeza por ver que não estava a evoluir o suficiente.
Foi apartir daqui que surgiu a ideia da natação adaptada. Comecei a ver que atletas com problemas parecidos ao meu, conseguiam alcançar feitos muito bons na natação e até atletas de outros países que conseguiam quebrar recordes, ir a jogos paralímpicos e ganhar medalhas. Então, eu pensava para mim que se elas conseguiam, eu também o conseguia, bastando trabalhar muito, ter foco e nunca desistir.
A deficiência com que nasci não a considero uma limitação, porque não me limitou de nada. Eu consigo fazer tudo o que os outros conseguem, tenho é que simplesmente fazer o dobro ou triplo do esforço. Competir na natação adaptada só me fez ver que afinal tinha um lugar na natação em Portugal e assim competir em "pé de igualdade" com atletas parecidas comigo.

E- Quando é que a natação começou a ser mais a sério na tua vida? Quando é que começaste com as competições?
RP- Faço entre 7 a 8 treinos semanais, treinos de água e a seco ou seja ginásio. Tem dias em que treino duas vezes.
E- Qual foi a primeira prova que fizeste internacionalmente?
RP- A primeira prova que fiz pela seleção nacional foi em 2015 na Croácia e foram os "European Para Youth Games".
E- Tiveste presente no Open de Castilla y Léon, em Valladolid, Espanha, onde obtiveste os mínimos para o Mundial de Londres e ainda bateste o recorde nacional. O que é que isso significou para ti? O que sentiste?
RP- Foi sem dúvida uma competição com um misto de emoções. Tinha um grande sonho para essa época...Ir aos meus primeiros Mundiais, para isso, tinha de fazer os mínimos de obtenção para o Campeonato do Mundo. Foi uma época que considero bastante difícil, dura e sofredora, porque em três competições seguidas fiquei a centésimas do mínimo. A pressão foi muita mas no fim compensou tudo. Vivi um dos momentos mais felizes da minha vida. Acabei de nadar e vi que toda a gente estava a gritar por mim e com uma felicidade estampada no rosto e foi aí que percebi que tinha feito o mínimo e que era o passaporte para o Campeonato do Mundo.
E- Participas em competições com a modalidade de bruços. Porquê esta modalidade? Há algum motivo específico, vem do teu gosto pessoal...?
RP- O meu estilo é bruços e realmente é engraçado porque quando iniciei a competição era o estilo em que tinha mais dificuldades e nadava muito mal. Mas com a prática fui aperfeiçoando a técnica, com a ajuda do meu treinador e mais tarde percebi que era o meu estilo melhor e que conseguia obter resultados melhores nadando as distâncias de bruços.

E- Em que outras competições já participaste? Já ganhaste alguma medalha?
RP- Participei nos "European Para Youth Games" em 2015 em Varazdin, Croácia; Campeonato da Europa em 2016 no Funchal; "European Para Youth Games" em 2017 em Líguria, Itália; Campeonato da Europa em 2018 em Dublin, Irlanda; "British Para-Swimming International Meet 2019" em Glasgow e por fim o Campeonato do Mundo em 2019 em Londres, Inglaterra.
E- Tens o sonho/objetivo de vir a participar nos Jogos Paralimpicos?
RP- Sim, tenho. É o meu maior sonho, sonho de qualquer atleta, é a cereja no topo do bolo. Espero conseguir!
E- Recentemente anunciaste que és a nova embaixadora da marca G- Shock. Como foi veres e perceberes que estavas a ter reconhecimento por parte de uma marca?
RP- Felizmente o desporto paralímpico está a começar a receber a atenção que merece, mas continua a ser necessário lutar todos os dias pela igualdade de oportunidades. Sou muito grata à G-shock por esta oportunidade e por terem visto na minha história uma mais valia para a marca, para encorajar as pessoas a fazerem o que mais gostam independentemente das suas limitações. Tudo é possível e não há o impossível.
E- Sentes que a natação adaptada te deu mais força e mais à vontade para assumires e aceitares a tua condição? De que maneira a natação te ajudou?
RP- Sem dúvida, a natação adaptada mudou forma de eu ver as pessoas com deficiência. Ao início também me fazia confusão estar enquadrada no meio das pessoas com deficiência, porque como nadava e competia com os meus colegas que não tinham qualquer tipo de deficiência, não aceitava o facto de estar num desporto adaptado e não sabia o quanto precisava disto na minha vida. Não me arrependo nem por um segundo a escolha que fiz, por isso, sem dúvida que mudou a forma como me via e passei aceitar mais o meu problema.
E- Que mensagem deixarias a alguém que tem a mesma condição que tu e que se pode sentir perdido e incapaz de tudo?
RP- Contava a minha história, porque a minha história prova isso mesmo, prova que podemos fazer aquilo que mais gostamos, independentemente das nossas limitações. Somos nós que impomos o rumo à nossa vida!
E foi exatamente isto que disse no vídeo por parte da marca G-shock.
Por isso, não desistas! Tu consegues tudo, basta acreditares em ti!
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