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Um último adeus ao fundador do CDS

  • Foto do escritor: Ana Rita Graça
    Ana Rita Graça
  • 3 de out. de 2019
  • 3 min de leitura

Diogo Freitas do Amaral estava internado desde setembro. O governo decretou luto nacional no dia do funeral do fundador do CDS.

Lusa: António Cotrim

O antigo presidente e fundador do CDS Diogo Freitas do Amaral morreu esta quinta-feira, dia 3 de outubro, de paragem cardíaca. Freitas do Amaral encontrava-se internado nos cuidados intermédios no Hospital da CUF em Cascais desde meados de setembro.


O Governo anunciou, desde logo, que, em Conselho de Ministros, decretou luto nacional no dia em que se realizou o funeral, dia 5 de outubro, no cemitério da Guia em Cascais.


O corpo do fundador do CDS-PP foi para o Mosteiro dos Jerónimos, no dia 4 de outubro. Nesse dia celebrou-se uma missa às 19h, estando prevista uma outra, de corpo presente, no dia 5, às 12h, antes de o corpo seguir para o cemitério.


O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, manifestou no site da presidência “o mais fundo pesar”, salientando a “rica experiência parlamentar e governativa” e a “excelência cívica” de Freitas de Amaral. Marcelo Rebelo de Sousa revela ainda que “perdeu um grande amigo pessoal de meio século”.


No final de junho de 2019, Marcelo foi um dos políticos presentes no terceiro livro de memórias políticas publicado por Freitas do Amaral e intitulado “Mais 35 anos de democracia – um percurso singular” — que abrange o período entre 1982 e 2017. Nesse livro, o primeiro líder do CDS e candidato nas presidenciais de 1986 recordou o seu “percurso singular” de intervenção política, afirmando que acentuou valores ora de direita ora de esquerda, face às conjunturas, mas sempre “no quadro amplo” da democracia-cristã.


O percurso do primeiro líder do CDS


Diogo Freitas do Amaral, nasceu na Póvoa de Varzim a 21 de julho de 1941 em plena II Guerra Mundial.


Foi à porta de casa do avô de Freitas, em 1937, que aconteceu um atentado à bomba contra o chefe do Governo. “Tanto os meus avós, de um lado e de outro, como os meus pais, eram salazaristas”, escreveu em 1995, no primeiro volume de memórias, “O Antigo Regime e a Revolução: Memórias Políticas (1945-1975)”. “Foi assim que na minha juventude me habituei a ouvir falar de Salazar com grande admiração, respeito e mesmo veneração. No mesmo livro, contou como conheceu Salazar, com quem nunca chegou a falar. “Esperámos pacientemente, numa pequena fila que se tinha formado, até que chegou a nossa vez de falarmos a Salazar. A minha mãe lá mo apresentou, fazendo referência ao facto de eu ser estudante de direito e aluno bem classificado. Para meu grande espanto, o presidente do conselho limitou-se a apertar-me a mão, convictamente, mas nada disse. Não abriu a boca. Confesso que fiquei irritado com ele.”


Freitas do Amaral licenciou-se, depois, em direito em 1963 na Universidade de Lisboa. Também foi nesse ano que conheceu a estudante da Faculdade de Letras Maria José Salgado Sarmento de Matos, com quem casaria três anos depois e da união nasceram quatro filhos.


Cumpriu serviço militar na Marinha e em 1974 passou a exercer como catedrático na Faculdade de Direito, até 1998, e na mesma instituição foi eleito por cinco vezes para o conselho científico. Freitas do Amaral também lecionou na Católica. Em 1996, ajudaria a criar a Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, onde ensinou a partir de 1999.


Os percursos académico e político foram simultâneos. No final da década de 60 trabalhou como técnico do Ministério das Finanças e foi procurador à Câmara Corporativa, tendo-se transformado, a seguir ao 25 de Abril, no rosto da direita democrática de inspiração cristã. Presidiu ao CDS entre 1974 e 1982 e entre 1988 e 1991, mas desvinculou-se quando Manuel Monteiro assumiu a liderança do partido em 1992, acabando por aceitar a pasta de ministro dos Negócios Estrangeiros no primeiro governo socialista de José Sócrates, em 2005. Essa escolha seria polémica: o então secretário-geral do CDS, Pedro Mota Soares, mandou retirar o retrato de Freitas da sede centrista, no Largo do Caldas, em Lisboa, e o Partido Popular Europeu ponderou expulsá-lo, por integrar o governo de um partido de outra família política europeia, o que Freitas resolveu ao pedir antecipadamente a demissão.


Ao fim de um ano, abandonou o cargo, por “motivos imperiosos de saúde”, e em 2015 ensaiou uma reconciliação pública com o CDS, durante a apresentação de um livro comemorativo de quatro décadas do partido. “Ninguém traiu ninguém, continuamos separados, mas irmãos”, afirmou nessa altura.


Deixa publicados inúmeros livros técnicos de direito administrativo, ensaios de pensamento político e biografias.

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