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Escolhas (in)certas que fazemos para ser adultos à pressa

  • Foto do escritor: Enfoque
    Enfoque
  • 25 de out. de 2019
  • 2 min de leitura

Atualizado: 15 de jan. de 2020

Desde cedo somos obrigados a fazer escolhas determinantes. O medo de fazer a escolha errada é uma sensação que nos acompanha há já muito tempo e nem damos por isso. Começou talvez na escola primária, através de pequenas questões como “será que pinto o desenho com lápis de cera?” ou “damos as respostas a lápis ou a caneta, professor?”. A verdade é que os miúdos nunca querem escrever a caneta porque é uma responsabilidade muito grande – se for a lápis, apaga-se e escreve-se outra coisa. A caneta já não dá. Parece que é o símbolo de um compromisso selado, de uma certeza que não temos. E, aparentemente, nunca podemos estar incertos.


O auge do ridículo chega aos 14 anos quando somos obrigados a escolher um curso que restringe as nossas opções a níveis drásticos. Uma criança que está longe de ter idade para votar ou para beber (e, para muita gente, até para decidir se pode namorar, vejam só) tem obrigatoriamente de escolher uma área com que se identifique, separando-se inequivocamente de todas as outras, porque um futuro médico não pode ter jeito para pintar uns quadros. Ou então, a clássica: os meninos das línguas não podem ter jeito para a matemática. Aos 14 anos temos de deixar muita coisa de lado, mesmo que gostemos de tudo. E também não podemos estar incertos.


Aos 18 anos, chega o epítome da estupidez. Muitos suspiram de alívio e abrem a porta ao mundo profissional, que não lhes dá muitas hipóteses porque um canudo e a experiência de 400 anos na área vale mais do que qualquer outra coisa. Outros tantos juntam a nota dos exames com a média do secundário através de umas contas quaisquer (que eu não sei fazer porque sou de humanidades) e esperam entrar no curso que querem. E se calhar só querem porque os pais aconselham, ou porque a média é alta e por isso o curso deve ser bom. Ou então julgam mesmo que querem, mas na verdade não querem. É quase impossível ter a certeza de que aquele é o caminho certo para nós quando há centenas de outros que ainda não explorámos e se calhar nem sabemos que existem. Falta o contacto real, falta ser curioso, falta querer descobrir mais. Só que não podemos estar incertos.


Porém, não há nada que seja certo. A incerteza, a insegurança e o medo do futuro vão acompanhar-nos sempre. E ainda bem que assim o é, porque nada seria tão bom se pudéssemos tomar tudo como garantido. Não há nada de errado em parar, experimentar, explorar, trabalhar, estudar ou até mesmo em fazer a escolha errada – para a próxima, temos menos uma opção na lista, e as probabilidades de acertar serão consequentemente maiores. E se não acertarmos outra vez, ou se estivermos confusos e receosos, não há nada de mal também. Porque não é errado ter incertezas, não é errado mudar de ideias nem é errado dizer “não sei”. Afinal, ser-se incerto é simplesmente ser-se natural.


Artigo de opinião por







Inês Fogageira

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