Época Natalícia: Prendas versus Família
- Joana Almeida Carvalho
- 13 de jan. de 2020
- 3 min de leitura
O tempo voa rápido demais e de repente sem darmos por isso já estamos no Natal!
O Natal é, para mim, a altura do ano mais bonita. Adoro, todo o movimento… as luzes as montras e as ruas todas enfeitadas. A cidade brilha e ganha outra vida.
A maior parte das famílias portuguesas reúne-se no dia 24 de dezembro, véspera de Natal. A minha não é exceção. Passamos o dia na cozinha, e a casa passa a ter um cheirinho a canela, açúcar, a rabanadas, a filhoses, pão de ló, bolo rei… um cem número de doces e de salgados… sim, porque a minha família é transmontana, e não dispensa os bolinhos de bacalhau e os filetes de polvo como entradas, sem esquecer, claro está, o cheiroso queijo da serra.
A mesa é posta com todo o amor e carinho, toda a decoração é escolhida a combinar, os marcadores, os pratos os guardanapos o centro de mesa…tudo é pensado ao pormenor. Reunimo-nos bem cedo para estarmos em família a conviver e à hora do jantar reunimo-nos à volta da mesa.
Depois do jantar é hora das brincadeiras, os mais novos fazem sempre um pequeno espetáculo de dança, um teatrinho, umas cantorias…o que quiserem...e aguarda-se com ansiedade pelo meia noite. Todos sem exceção recebem o seus presentes.
A nossa família já entrou na política do “amigo secreto” há cerca de 5/6 anos. No dia 8 de dezembro, em almoço de família, fazemos o sorteio do amigo secreto e cada um tem que comprar uma prenda para o seu amigo. Claro que as crianças não contam, essas recebem sempre as prendas do Pai Natal. Mas nem todas as pessoas cumprem como estipulado. Há sempre alguém que viu alguma coisinha interessante e engraçada e lá aparecem outras prendas que, sem contarmos, aumentam o monte das prendas. E depois é o pai que diz comprei mais esta porque a outra era pequenina… e avó acrescenta não sei o que me parece…e o avô lá dá o envelope a cada neta… e assim sucessivamente lá vão aparecendo outras prendas surpresas.
Isto acontece porque as pessoas sentem a necessidade de dar uma prenda aos outros familiares que lhe são próximos. As lojas, o ambiente natalício e os produtos levam-nos a comprar, a querer oferecer e acabamos por dar, não só à família, como aos amigos e, por vezes, aos colegas de trabalho.
Mas porque é que as pessoas têm esta necessidade? Será mesmo necessário trocar presentes no natal? Só é Natal se houver prendas? Quando ando nas compras de Natal, ouço muitas vezes as pessoas a comentar: “Vou dar só isto? Parece mal dar algo só com este valor?”, outros dizem: “Detesto o Natal porque nunca sei o que comprar”. Mas afinal o que interessa no Natal? As Prendas? Os jantares com os amigos? A família?
Ao escrever esta crónica, parei para refletir e surgiu-me algo que nunca tinha pensado antes: e os sem abrigo? E as pessoas que não têm família? E os órfãos? O que pensam eles sobre o Natal? E o que é mais importantes para eles? E se lhe perguntássemos se gostam desta época? E como festejam? Tenho a certeza que a resposta nunca seria “não recebo prendas” mas sim “não tenho ninguém”, porque o grande sentido do Natal é esse mesmo, não são os presentes, são as pessoas.
Sinto que as pessoas, cada vez mais, trocam o verdadeiro sentido do Natal. O Natal é a união; é o nascimento de Jesus, para alguns; é a família; a amizade e o amor; é o estar sentado à mesa a comer, a jogar e a rir com quem mais amamos.
Então, porque é que é necessário toda a azáfama antes do Natal em comprar os presentes? Porque é que as pessoas se queixam tanto da falta de dinheiro e no Natal as lojas fazem o quádruplo ou o quíntuplo de lucro por dia? Passamos mais de um mês à procura das melhores prendas, das prendas certas, quando o mais importante é mesmo estar presente.
Consigo imaginar um Natal sem receber qualquer tipo de prenda, mas não quero nunca ter de viver um Natal sem família, porque isso é do melhor que temos na vida.
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