FOMO. Do inglês “fear of missing out”
- Enfoque
- 10 de dez. de 2019
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Medo. Medo de perder algo. Não o medo de perder algo que já temos. Medo de perder algo que não temos. Medo de perder uma festa, medo de perder uma palestra importante. Medo de perder a estreia de um filme. Medo de perder. Medo de ficar de fora. Medo. De ficar de fora.
Quem nunca sentiu FOMO? Atire a primeira pedra quem já foi a um jantar de amigos só por medo de perder uma revelação importante, por medo de ficar de fora, não por realmente sentir saudades dessas pessoas.
Eu já atirei a minha pedra. Muitas vezes sinto FOMO. E por isso vivo a vida no limite. Planeio tudo o que quero fazer de forma a não me escapar nada. Nunca escapa, ou pelo menos raramente tal acontece. O que me faz ser assim? Um anseio enorme que resulta do medo de perder algo, de ficar de fora de um acontecimento importante e isso levar a um arrependimento que não passa. Mas e as consequências de fazer tudo? De planear e levar a vida no limiar do limite do que é ser humano? Essas são muitas. Pouco descanso para uns, stress para que tudo seja feito para outros. Mas o pior? Não vivermos o momento presente porque já estamos a pensar no próximo. Pior ainda, uma sensação de falha. Falhamos porque apesar de termos feito tudo, apesar de termos ido a todos os eventos que estavam na nossa listinha sobre como evitar FOMO, 90% das coisas não as queríamos realmente fazer, não tínhamos um sentido, propósito ou desejo genuíno e por isso, no final, sentimo-nos incompletos.
FOMO. Mas porque? Os nossos pais sempre nos protegeram, é-lhes inato. Mas os amigos dos nossos pais, o vizinho que encontramos na rua ou a senhora do supermercado que já nos conhece a cara dizem sempre: “ahh minha querida! vinte anos, os melhores anos da tua vida. Aproveita, ah se eu tivesse a tua idade tinha aproveitado mais. Agora já é tarde”. E pronto. Instala-se o pânico e ganhamos uma vontade repentina de fazer tudo e mais alguma coisa.
Também a internet não ajuda nada, não é? Basta abrirmos o nosso instagram e lá está, uma “história” de uma amiga naquela festa com tantos amigos nossos à qual não nos apeteceu ir e sobre a qual vamos ficar de nossa quando conversarem sobre o que se passou na festa ou o quanto se divertiram. Um amigo na viagem de neve da escola, a qual não fomos porque preferimos passar uns dias a visitar a família. Uma pessoa que não conhecemos a partilhar a sua experiência de voluntariado em África. E lá vamos nós para africa, porque não queremos ficar de fora. Não porque temos um coração inato para a partilha ou porque temos um sentido de missão genuínos. Vamos porque alguém foi. E nós não podemos ficar de fora.
Bem o problema é o seguinte: os velhinhos disseram para aproveitarmos a vida, e nós depois ligamo-nos ao mundo da internet e vemos as publicações dos nossos amigos a divertirem-se e então percebemos que não estamos a aproveitar a vida. Mas que estupidez. Não foi isto que os velhinhos nos disseram para fazer, de todo. Mas nós olhamos para a nossa vontade de aproveitar a juventude e ter uma vida plena e compramos com aquilo que é o aproveitar a juventude e forma de vida dos nossos amigos ou apenas aqueles cujas vidas seguimos minuciosamente pelas redes sociais. E pronto, chega o FOMO às nossas vidas.
Bem, não sei como me livrar disto. Sinto que já lá vão tantos anos a enviesar o meu sentido, a minha verdadeira vontade de fazer coisas, que já não consigo distinguir se as faço por vontade ou por medo de ficar de fora, por medo de me arrepender no futuro. Talvez a única solução possível será mesmo desconectar, para conectar. Ou será isto o FOMO de viver uma vida plena sem FOMO a falar?
Artigo de opinião por

Ana Margarida Carvalho
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